Arrumações profundas = sentimento agridoce
Arrumar memórias, desaparecer com materialismos e ganhar espaço.
Manter o que é material parece prender-se com questões de Tempo. O que usamos antes, o que fomos antes, o que precisaremos no futuro, o que iremos sentir ao rever isto mais tarde.
Sabe-se que o Tempo como o conhecemos não é senão a ilusão da nossa percepção criada pela sucessão de movimento. Se o Tempo não existe e aquele objecto não nos fez falta, seguramente não precisaremos dele.
Será que precisamos dele para nos lembrarmos do que somos? Ou o apego às coisas, faz-nos sentir que existimos e que podemos viajar no Tempo? Máquinas do tempo não são necessariamente precisas. O que é - senão viajar no Tempo - pegar em livros, cartas, fotografias? Rever, reexperienciar e re-sentir?
A função que nos serve no imediato é apenas fútil considerando que não é útil. Mas as recordações que trazem são avassaladoras, impedem-nos de nos desfazermos de objectos: bilhetes, papeis manuscritos, lembranças.
São o que guardamos de bom, nesse sentido queremos perpetuar a nossa percepção de eventos dos quais sentimos falta, ou que percepcionamos hoje como tendo sido irrepetíveis no sentido lírico do termo. Perdemo-nos, assim, neste vaguear sem considerar que o Tempo é algo que não existe e que a percepção da sua passagem é uma ilusão e que no Futuro, se existir, não vamos precisar de nos lembrar, de nostalgia em nostalgia, como fomos felizes num determinado momento. Até porque raramente é assim. É a falta de pratica da qual padecemos, tantas vezes, de olhar para o Presente.
Quando pensamos no tempo como algo inexistente é mais fácil desfazermo-nos de qualquer coisa, desde que nesse momento seja isso que desejamos. Aprisiona-nos esta ideia de depender dos objectos para recordar o que nos fez feliz. É, por isso, agridoce.
É belo abrir as caixas, mas só o fazemos quando precisamos de espaço.
É belo abrir as caixas, mas só o fazemos quando precisamos de espaço.
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